segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Garotas avec Elegance

Escalada é uma paixão, dessas difíceis de desapegar, e por conta dela, abracei esse mundão, escalando paredes em várias partes do Brasil. Como não me sacio com pouco, decidi morar nos picos de escalada, conhecendo assim toda a natureza que rodeia nossas montanhas, e seu entorno como tantos falam, me presenteiam diariamente.

Morei em São Bento do Sapucaí onde fiz grandes amizades, dentre elas a da Mônica Filipini, garota de fibra e que foi minha parceira em uma grande aventura em Salinas, local que resido a alguns meses. Quando falo de parceria, é incrível pensar como funciona uma cordada feminina, o comprometimento para se alcançar o objetivo, a consciência de que o sucesso depende apenas de nós mesmas, de darmos o primeiro passo e encarar o desafio de frente, que para nós veio na forma da via Decadence avec Elegance, desesseis cordadas com direito a abelhas e sétimos graus.

Há muito tempo combinávamos de escalar juntas, mas, a oportunidade foi surgir somente agora. Mônica chegou em casa crente de que faríamos uma via fácil, com intenção de aclimatarmos, vermos como nossa escalada fluiria, quando lhe joguei idéia que tinha em mente a vários dias. Vamos fazer a Decadence, e amanhã! Surpresa minha quando ela topou!

Showww! Agora é arrumar os equipos e sair madrugada adentro com mochila nas costas. Porteei o material de bivac até o vale dos deuses e a Mônica pegou a trilha em direção ao pico maior com os equipos, assim as 7:20 estávamos na base da via.


Emendei as duas primeiras por conta das abelhas e a Mônica emendou as duas próximas, agilizamos, emendando sempre que dava e revezando as cordadas. Quando demos por conta estávamos na base do primeiro crux, uma bela cordada de sexto aderente que continuava em uma fenda de dedos, mista, lindíssima, cheguei na p11 e chamei a Mônica, agora vinha o crux de verdade! A cordada de 7ª que a Mônica guiou com maestria, mas, que depois de um lance longo e um pouco exposto decidiu me chamar para dividirmos o crux humanitariamente. Ri quando cheguei, pois, o lance mais difícil ela já havia feito e costurado. Sobrou para mim apenas um lancinho de pé alto e mais alguns metrinhos até a parada, onde consultamos o relógio e eram apenas 12:20!!! Relaxamos e lanchamos.

A Mônica guiou as próximas cordadas, emendando da p11 até a p13, cordada que considerei a mais bonita da via, com belas agarras e lances aéreos. A próxima cordada foi uma confusão do cão, pois via se mistura com a Matheus Arnoud, e quando vi, estava na base da segunda chaminé da leste.

O que é que eu to fazendo aqui!!!

Via o bico de pedra do artificial e sabia onde estava a parada, pois várias vias se juntavam ali, inclusive a Arco da Velha que havia feito na semana anterior. Como duas cabeças pensam melhor do que uma, chamei a minha parceira e enquanto dava seg analisava a barriguinha que precisava ser feita para alcançarmos a próxima parada.

Com a Mônica mais perto me incentivando foquei no lance e cheguei na parada, com o coração aos pulinhos, dei uma seg esperta pra Mônica, pois em diagonal tanto o primeiro quanto o segundo precisam de atenção pra não pendular. E chegamos no artificial que também se mostrou uma cordada tensa, pois mesmo com cordins e fitas a Mônica teve dificuldade em alcançar a ultima chapa do artificial, depois entrou em um lance com agarras quebradiças e quando viu estava fora da linha da via, o lance era pela chaminé, como a chapa indicava, assim costurou e conseguiu voltar pra via. E nessa cordada ainda havia surpresas, lances de quinto graus adrenantes pra se chegar na parada, uma emoção atrás da outra! Sem falar o frio e as nuvens escuras que ameaçavam chuva!

Guiei a próxima cordada que me aqueceu, pois, estava com muito frio, e cheguei na base do que chamo de presente: um diedro fendado na ultima cordada. Presente dos deuses, lindo, que guiei com maior carinho, chamando a Mônica.

Chegamos no cume, felizes da vida ainda não acreditando no que havíamos realizado, agora só nos restava descer, rapeis que não acabavam mais, chegamos no chão escurecendo, lindo!

Luciana Maes tem o apoio da km 10 Sports e Refugio Ronca Pedra alimentos orgânicos. Mônica Filipini tem o apoio da Equinox.


veja essa matéria na integra com melhores fotos no mountain voices de outubro do ano passado.

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